VII. “Actuosa participatio”

Como foi recordado neste último texto, o Concílio Vaticano II várias vezes pediu uma “actuosa participatio”, uma “participação ativa” dos fiéis no culto. Como se sabe, isto foi frequentemente interpretado o sentido de uma condenação da pretensa atitude “passiva” à qual a liturgia tradicional relegou os fiéis. A frase acima citada , “Não há mesmo nada de ‘ativo’ no ouvir, no intuir, no comover-se?” revela claramente o pensamento do Papa a respeito. Mais notáveis ainda, e em parte surpreendentes, são as linhas que lemos no “Introduzione allo spirito della liturgia” a p. 167: “Em que consiste, porém, esta participação ativa? Que é necessário fazer? Infelizmente, este expressão foi muito cedo mal interpretada e reduzida ao seu significado exterior, aquele da necessidade de um agir comum, como se se tratasse de fazer entrar concretamente em ação um maior número possível de pessoas o mais frequentemente possível. A palavra ‘participação’ indica, porém, uma ação principal, da qual todos devem participar”. Qual será, portanto, na realidade esta “actio”, esta ação à qual toda a assembléia é chamada, agora como sempre, a participar? Como indica o Papa, sabe-se que frequentemente deu-se a esta pergunta a resposta prática de multiplicar e distribuir com o maior número de pessoas possível os serviços paralitúrgicos durante a celebração: há quem acende as velas e quem as apaga, quem coloca a água no vinho, quem faz a primeira leitura e quem faz a segunda, quem canta o salmo e quem entoa o glória, a oração dos fiéis deve ser feita por uma pessoa diferente a cada invocação, e a procissão do ofertório deve, às vezes, parecer um cortejo. Para o Papa não deve ser assim. Continua o citado texto: “Com o termo ‘actio’, empregado para a liturgia, compreende-se o cânon eucarístico.

A verdadeira ação litúrgica, o verdadeiro ato litúrgico, é a ‘oratio’: a grande oração, que constitui o núcleo da celebração eucarística e que, exatamente por isso, no seu conjunto, foi chamada pelos Padres com o termo ‘oratio’. Esta ‘oratio’ – a solene oração eucarística, o ‘canon’ – é realmente mais que um discurso, é actio no sentido profundo do termo. Efetivamente, nela acontece que a ação humana (assim com foi até agora realizada pelos sacerdotes nas diversas religiões) passa para um segundo plano e deixa espaço pra a actio divina, para o agir de Deus. Mas, como nós podemos tomar parte nessa ação? Nós devemos rezar para que (o sacrifício do Logos) se torne o nosso sacrifício, para que nós mesmos, como dissemos, sejamos transformados no Logos e nos tornemos, assim, verdadeiro corpo de Cristo. É disto que se trata”. Aqui, no interior da fornalha ardente que é o centro mesmo da fé cristã, estamos realmente a quilômetros de distância das interpretações sociológicas banalizantes das quais se falou acima. Com efeito, prossegue o Papa: “O aparecimento quase teatral de atores diversos, a que nos é dado hoje assistir, sobretudo na preparação das ofertas, passa muito simplesmente distante do essencial. Se as diversas ações exteriores (que de per si não são muitas e que são artificialmente aumentadas em número) tornam-se o essencial da liturgia e esta mesma torna-se degradada num genérico agir, então é ignorado o verdadeiro teodrama da liturgia, que é reduzida a uma paródia”.