Entrevista Mons. Guido Pozzo, Secretário da Comissão Ecclesia Dei

O blog New Liturgical Movement publicou os pontos mais importantes de uma entrevista concedida ao serviço alemão da Rádio Vaticano por Mons. Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, por ocasião dos três anos de Summorum Pontificum.

Apresentamos a tradução do Fratres in Unum:

1. (Quando questionado sobre a resistência ao usus antiquior): O antigo Rito da Missa tem uma profunda riqueza que precisa não só ser respeitada, mas também redescoberta, para o bem da liturgia, também como é celebrada hoje. Esses preconceitos e resistências têm de ser superados por uma mudança na forma mentis, na disposição. É necessária uma formação litúrgica mais adequada.

2. (Quando questionado se o interesse no usus antiquior está crescendo:) Eu diria crescendo. Também porque observamos que especialmente nas jovens gerações há interesse e popularidade da antiga forma da Missa. E isso é surpreendente.

3. (Quando questionado sobre o número de fiéis interessados na Forma Extraordinária): Está absolutamente claro, também, que o valor da Forma Extraordinária do Rito não tem nada que ver com números. Ambas as formas são iguais em valor e dignidade.

4. Sou da opinião que se deva oferecer aos seminaristas a oportunidade de aprender adequadamente a celebração na Forma Extraordinária nos seminários — não como uma obrigação, mas como uma possibilidade. Onde possível, se poderia fazer uso da formação dos padres daquelas instituições que estão sob a jurisdição da Comissão Ecclesia Dei e seguem a disciplina litúrgica tradicional.

5. Na carta aos bispos que acompanha o motu proprio, o Papa Bento XVI mencionou, por um lado, a necessidade de atualizar o calendário dos Santos, i.e., inserir os Santos proclamados após 1962, e, por outro, que certos prefácios do Missal de Paulo VI deveriam ser incorporados a fim de enriquecer a coleção de prefácios do Missal de 1962. A Comissão Ecclesia Dei estabeleceu um processo de estudos para cumprir a vontade do Santo Padre. Aqui chegaremos em breve, acredito, a uma proposta, que logo será submetida ao Santo Padre para aprovação.

6. Creio que devamos reconhecer que a Forma Ordinária do Rito Romano oferece uma mais ampla leitura da Escritura do que o Missal de 1962. Porém, uma emenda do Missal de 1962 a este respeito não é fácil, porque deve-se ter em conta a relação entre as leituras bíblicas e as antífonas ou responsórios do breviário Romano para aquele dia. É útil recordar também, no entanto, que sob o Papa Pio XII um número de leituras adicionais para o comum dos Santos foi adicionado. Portanto, não se pode rejeitar uma possível extensão das leituras da Missa. O que não significa, todavia, que se possa, enquanto bispo ou padre celebrante, subjetiva e arbitrariamente mudar a sequência do Lecionário ou misturar as duas formas, de modo que o caráter de ambos seja perdido.

7. À luz destas explicações (na carta aos bispos), é claro que os fiéis Católicos são encorajados a evitar a participação nas Missas ou recepção dos sacramentos de um padre da FSSPX, pois estão canonicamente irregulares.

Fonte: Fratres in Unum

Excerto da Entrevista:

Apresentamos a nossa tradução de um excerto da entrevista concedida por Mons. Guido Pozzo, secretário da Comissão Ecclesia Dei, ao serviço alemão da Rádio Vaticano (via Distrito Alemão da FSSPX):

A Missa Antiga na Basílica de São Pedro: Pode-se celebrá-la hoje em dia sem mais rodeios?

“Com a entrada em vigor do Motu proprio Summorum Pontificum a Forma extraordinária da Missa não está mais sob indulto, como anteriormente, mas ela é regida pelas normas do Motu proprio. Também na Basílica de São Pedro as normas do Motu Proprio serão aplicadas.”

Ou seja, também na sacristia de São Pedro tudo fica preparado para se poder celebrar segundo o rito antigo?

“Sim, pelo que eu saiba. De fato, muitos padres celebram a missa no rito antigo lá pela manhã, também com acólitos.”

Será que o Papa Bento um dia celebrará uma missa solene na forma extraordinária?

“Creio que a pergunta está sendo feita para a pessoa errada!”

Quanto às discussões da Santa Sé com os lefebvristas, [como] também [é conhecida] a Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX): O senhor poderia dizer se houve progresso até agora?

“ A confidencialidade é a condição essencial para o sucesso das negociações em curso entre os especialistas da Congregaçao para a Doutrina da Fé e a FSSPX. E não vou divergir desse principio. Mas posso dizer que o clima das discussões é positivo, construtivo e apoiado por estima mútua. Até agora as discussões se destinam a apresentar as razões e argumentos de um e de outro lado, a fim de expor a base ou a raiz das dificuldades magisteriais existentes. Sondar essa raiz e as últimas razões das dificuldades com clareza ao meu ver é um progresso.”

O Papa Bento escreveu que os sacerdotes das comunidades vinculadas à forma antiga do rito romano também não podem, a princípio, excluir a celebração segundo os novos livros. Como a Fraternidade de São Pio X encara essa questão?

“É preciso fazer essa pergunta à FSSPX. Penso, como disse agora mesmo, que também a questão dos livros litúrgicos da Reforma de Paulo VI está enquadrada no entendimento correto da reforma litúrgica e na subseqüente aplicação correta. A questão básica que a FSSPX precisa responder é se a forma ordinária do rito romano, promulgada por Paulo VI, é válida e legítima em si mesma. Nesse ponto não pode haver qualquer dúvida e nenhuma hesitação. A resposta deve ser “sim” indiscutivelmente. Em uma outra página ficam a ambigüidade, deficiência e também erros doutrinários que se espalharam no tempo pós conciliar, seja na compreensão teológica, seja na aplicação da reforma litúrgica. O então Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento, falou a respeito de uma “demolição” da liturgia. A partir desse ângulo de visão não se pode dizer que muitas das críticas seriam injustas.

Fonte: Fratres in Unum