O Cardeal Kurt Koch, novo presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, acusou os protestantes de renunciar a meta original do ecumenismo. Eles sucumbiram à uma visão relativista da eclesiologia, baseada na comunhão partilhada entre Igrejas separadas – disse ele nesta semana — e, ao fazê-lo, abandonaram o próprio objetivo ecumênico de unidade genuína.
“Decididamente, é nesta mentalidade pós-moderna caracterizada por tendências pluralistas e relativistas que se encontra o grande desafio na procura da unidade visível da Igreja de Jesus Cristo”, declarou o arcebispo suíço nesta segunda-feira, na abertura da plenária do Conselho em Roma, marcando o quinquagésimo aniversário do pontifício conselho. Num discurso teologicamente denso à sua primeira plenária desde que tornou-se presidente em julho passado, afirmou que esta mentalidade era encontrada não apenas entre os protestantes, mas também “em muitos Católicos”.
O presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, feito Cardeal no último consistório, disse que a atual crise do ecumenismo se reduz ao que ele chamou de duas “mentalidades profundamente diferentes” que moldam a maneira com que Católicos e protestantes descrevem a natureza da Igreja.
“As Igrejas e comunidades eclesiais nascidas da Reforma renunciaram o objetivo original do ecumenismo enquanto unidade visível e o substituiram pelo conceito de reconhecimento mútuo enquanto Igrejas”, disse.
O Cardeal Koch disse que as Igrejas da Reforma foram marcadas pelo “grave fenômeno de fragmentação eclesial” e adotaram, assim, um “pluralismo eclesiológico”, que veria a meta do ecumenismo como “diversidade reconciliada” de muitas Igrejas, em vez da reconstrução da unidade visível (enquanto aceitam a diversidade) em uma Igreja. O Cardeal alegou que o “pluralismo” protestante entre diferentes Igrejas confessionais “constrasta com a convicção Católica de que a Igreja de Jesus Cristo ‘subsiste’ na Igreja Católica, noutras palavras, que ela já é uma realidade existente”. “Está claro que há uma profunda diferença entre esta visão protestante e a interpretação Católica e ortodoxa segundo a qual o objetivo ecumênico não pode ser a inter-comunhão, mas ‘comunhão’, dentro da qual a comunhão eucarística também encontra seu lugar”, declarou.
Em seu discurso de 18 páginas, o Cardeal Koch não fez nenhuma menção específica à comunhão anglicana, mas, numa entrevista à Rádio Vaticano antes da plenária, ele respondeu a questões sobre a constituição apostólica Anglicanorum Coetibus, que provê o ingresso de leigos, padres e bispos anglicanos na Igreja como um grupo.
Questionado por Mario Galgano — que foi porta-voz da conferência de bispos da Suíça de 2004 a 2006, quando Dom Koch era Presidente da conferência — se os bispos anglicanos casados que queriam juntar-se à Roma não eram “um obstáculo insuperável” para a Igreja, Koch admitiu que bispos casados não eram um fator novo: “Nós já temos experiência com padres casados. Eles continuam padres casados. Mas há um problema com bispos casados, já que nossa tradição… não tem experiência [disso]“.
O entrevistador lembrou Koch que um dos bispos anglicanos envolvidos disse ao jornal The Times que vários milhares de anglicanos desejavam se unir à Roma. Isso não é um problema para a igreja anglicana?
É “certamente” uma situação difícil para a comunidade anglicana, admitiu Dom Koch, “no que diz respeito à nossa Igreja, é uma questão de ajudar pessoas que, por assim dizer, estão batendo em nossa porta… isso não deve se revelar um obstáculo para o diálogo ecumênico, já que a unidade ainda está sendo procurada”.
Fonte: Fratres in Unum
Fonte: The Tablet – Robert Mickens and Christa Pongratz-Lippitt, 20 de novembro 2010